Sabão de óleo usado – por que não ser um sabão de primeira classe?

Normalmente aquele sabão que fazemos de óleo usado, reaproveitando o óleo e preservando a natureza, é sempre classificado como o sabão de “segunda classe”, aquele sabão relegado à limpeza geral, para lavar roupas e para a cozinha. É o sabão sem graça, sem cor e sem aroma, a não ser o cheiro de fritura, aquele que faz pouca espuma, espuma miúda e literalmente, se desfaz na água. Por que não fazer um sabão de óleo usado de “primeira classe” que tivesse aroma agradável, cor, espuma farta e grande, dureza e firmeza e que fosse digno de ser um sabão não só de limpeza mas eventualmente de banho também, por que não?

Por quase um ano recolhemos o óleo usado aqui em casa, antes dávamos para uma senhora que fazia sabão, uma mistura aproximada de 60/40 de canola e soja. O óleo após ouso era imediatamente colocado em um recipiente provido de uma peneira que retinha os sólidos e depois passado para frascos de plasticos onde o particulado fino era decantado por meses. Quando acumulou uns 20 litros, foi filtrado em papel sintético e separado do decantado, obtendo-se um óleo limpo, claro e isento de particulados e materiais liquidos insolúveis.

Foram preparados 6 lotes de 5kg de sabão por cold process usando 70/20/10 de óleo usado/óleo de palmiste/óleo de palma, SF de 5%. Um lote foi deixado ao natural, sem colorantes e sem fragância. Os demais, cada um recebeu uma cor de argila – verde, amarela, vermelha, rosa e azul, e as seguintes essências compatíveis com cold process – capim limão, baunilha, lavanda, floral e bergamota.

 

 

Sobreengorduramento no traço

Uma prática que algumas saboeiras(os) fazem é adicionar óleo da sobregordura no trace pensando, equivocadamente, que esse óleo é o que vai permacer insaponificado no sabão, isto é, sem reagir com a soda. Este é um dos mitos que povoam o mundo da saboaria artesanal, está tão enraizado que até em livros vc encontra esta prática.

Nada como uma teoria e uma experimentação científica para derrubar mitos.
Foi o que fez Kevin Dunn no seu trabalho: Superfatting and the Lye Discount. Este professor de química é o único químico que tem se dedicado a fazer uma abordagem científica de modo sistemático e tem com isso, contribuido de forma objetiva para explicar os fenômenos da saboaria artesanal.

Fiz uma tradução para o português deste artigo do prof. Kevin Dunn:

Sobreengorduramento e desconto de lixivia.pdf

O artigo original é este:

Superfatting and the lye discount.pdf

 

A importância da concentração de soda

Quando se quer calcular a quantidade de álcali (soda ou potassa) necessária para saponificar uma determinada quantidade de óleo ou mistura de óleos, o cálculo é objetivo e direto. É um cálculo fundamentado na relação estequiométrica da reação de saponificação, uma reação química. Pode ser feito manualmente, necessitando conhecer o índice de saponificação (IS) de cada óleo ou com o uso das várias calculadoras que existem on-line.

Tendo a quantidade de álcali – vou me referir à soda para facilitar, surge a pergunta: quanto de água devo utilizar para fazer a solução para diluir a soda?

Muitas pessoas nem fazem esta pergunta porque utilizam as calculadoras e as duas principais, já fornecem um valor default.

No Soapcalc é 38% de água como percentagem dos óleos e o da Mendrulandia fornece 28% de concentração de soda.

As pessoas pegam esses valores e saem a fazer o sabão. Acontece que na maioria das vezes estes valores não são os ideais para fazer o sabão. O Soapcalc ainda faz uma ressalva que o seu valor padrão é para quem está iniciando e depois, adquirindo experiência, muda para outros patamares de maior concentração de soda. O da Mendrulandia faz um explicação envolvendo os tipos de óleos e a concentração a usar. O que é ruim é que em ambas as calculadoras estas explicações ficam perdidas no meio das instruções que a maioria não lêem.

O fato é que a quantidade de água é muito importante para a performance do sabão nas propriedades de dureza inicial e tempo de secagem inicial. Inicial porque curva de dureza e secagem ao longo do tempo, ao final se aproximam de um ponto em comum. Se deixarmos um sabão comum por, digamos, 6 semanas, independentemente da quantidade de água que foi usada para diluir a soda, todos terão uma dureza similar e estarão secos igualmente. Agora, se tomarmos a dureza e a quantidade de água presente no sabão na primeira semana, se notará uma diferença grande, significativa. E aqui é muito importante a concentração da solução de soda.

Existem três modos de se expressar a quantidade de soda e água quando se vai fazer um sabão artesanal:

1 – Água como percentagem dos óleos

2 – Razão água : soda

3 – Concentração percentual de soda

As duas primeiras na verdade são modos não científicos de se expressar a concentração de uma solução soluto/solvente. É como expressar medidas de massa/volume como colher de sopa, colher de chá, copos, que tem razões históricas por trás, quando os recursos hoje disponíveis eram raros e caros. Há 20 anos atrás, quem poderia comprar uma balança digital?

O mais correto é expressar como concentração percentual de soda. Explicita a quantidade de soda e água presente em 100g de solução.

Fiz uma tabela para mostrar que a concentração de soda pode ser otimizada de acordo com algumas característica do sabão que se quer fazer, sua composição de óleos, o conhecimento de quem vai fazer, do modo que se quer fazer o sabão e também da interferência de alguns óleos essenciais e aditivos.

Os valores abaixo de 25% e acima de 40% estão assinalados em vermelho porque estão em regiões não recomendada, podendo haver separação de líquidos abaixo de 25% e reação muito rápida acima de 40%.

Os principais óleos saturados também conhecidos como óleos duros (hard oils) são os que contém predominantemente, ácidos graxos saturados na sua composição:
óleo de côco, palmiste, babaçú, palma, manteiga de karité, manteiga de cacau, e o esteárico (ácido graxo)

Os principais óleos insaturados também conhecidos como óleos moles (soft oils) são os que contém predominantemente, ácidos graxos insaturados na sua composição:
óleo de oliva, girassol, canola, soja, amêndoas doce, abacate, semente de uvas, arroz e mamona.

Só vou citar os dois extremos da relação saturados/insaturados. No máximo de 100/zero da relação sat/insat está o sabão de côco 100%., cujo único óleo é o que contém o ácido graxo saturado laurico que pode ser o côco, palmiste e babaçú. O traço deste sabão é muito rápido e a saponificação é exotermica, isto é, gera muito calor. Aqui é preciso trabalhar com uma concentração baixa de soda (mais água) do que o normal, algo abaixo de 30%, o que favorece um maior controle do traço e também pode evitar rachaduras do sabão no molde.

O outro extremo  é o venerado sabão 100% azeite de oliva, cujo único componente é o óleo de oliva, que contém predominantemente o ácido graxo oleico, um monoinsaturado. Muitos fazem este sabão usando o valor default de 28% de concentração de soda na calculadora da Mendrulandia ou 38% de água sobre  % de óleos na calculadora do Soapcalc, que corresponde a 25% de concentração de soda.  Este valores de concentração de soda podem ser enormemente otimizados usando até 40% de conc. de soda.

 

 

Sabão Luso – uma homenagem a Portugal

Este é meu último sabão do semestre. Vou estar ausente por um bom tempo, uma viagem longa! Deixo aqui meus agradecimentos a este pessoal incrível de Portugal. Muito obrigado por fazer parte do grupo Saboaria.

Este sabão quadriculado é feito do modo mostrado na figura abaixo.

Foi usado uma fórmulação básica bastante simples. O importante é sempre trabalhar com traço bem leve para permitir um bom nivelamento entre camadas e é fundamental no alinhamento preciso das cores.

 

Sabão série swirl – swirl de colher

 O que é o swirl

Sabão com swirl se refere a uma técnica para decorar um sabão usando duas ou mais cores para colorir uma barra de sabão feita por cold process. O efeito obtido é muito variado de acordo com o tipo de técnica de swirl utilizada, sendo o padrão mais comum é o que se assemelha ao marmorizado.

Swirl de colher Branco e Preto

Swirl de colher amarelo e preto

Swirl de colher branco e verde

Swirl de colher branco e azul

Tipos de swirl

Existem inúmeros modos  de se fazer o swirl que as vezes envolve o uso de duas ou mais técnicas ao mesmo tempo, como por ex. troca e cabide. Podemos citar:

Colher (spoon) – como o nome  diz, são usados colheres para obter o efeito
Pote (pot) – a mistura de cores é feita dentro do recipiente de preparao do sabão
Cabide (hanger) – é usado um dispositivo de arame parecdido com um cabide
Funil (funnel) – usa-se um funil para obter um padrão concêntrico
Coluna (columm) – usa-se uma coluna de perfil quadrado, redondo ou triangular
Arcoiris (rainbow) – as cores são depositadas em camadas multicoloridas
Troca (swap) – o molde é dividido em duas partes de cada cor e depois misturado
Pavão (peacock) – é desenhado figuras que lembra as penas do pavão
No molde (in the mold) – o swirl é feito no molde de vários modos

Condições para se fazer um swirl

É fundamental que se tenha um controle sobre o traço. Em todas as técnicas de swirl  é necessário que a massa de sabão tenha fluidez, que a viscosidade do traço seja baixa a média para permitir o escoamento, a mistura e o assentamento das massas coloridas. Se o traço for muito viscoso, impossibilita obter os padrões de swirl.

Para ter o controle sobre o traço é necessário gerenciar a sua formulação de tal modo que ela seja livre de componentes que aceleram o traço. A proporção de óleos com ácidos graxos saturados/insaturados deve ser mantida baixa na medida do possível, deve-se evitar aditivos que possam acelerar o traço como a cera de abelhas e conhecer o comportamentos dos óleos essenciais, evitando aqueles que aceleram o traço.

Em termos de processo, trabalhar em condições que minimizem a aceleração dos traço. Trabalhar com concentração baixa de soda, isto é, quanto mais água, melhor. As concentrações de 25% a 30% são os limites, sendo o ideal 28%. Manter a temperatura dos óleos e soda baixas, abaixo de 30° C.
O uso do mixer deve ser feito com muita cautela, precisa ter experiência e domínio do seu uso.

Colorantes a usar no swirl

De preferência usar colorantes que são especialmente formulados para essa finalidade. Normalmente são líquidos e soluveis em água e facilmente dispersos na massa de sabão e permanentes, não desbotam ou mudam de cor na soda e tem resistência a luz. Este colorantes não são encontrados por aqui, precisam ser importados.

Um alternativa viável seria o uso de pigmentos e argilas. A maioria dos pigmentos são de difícil dispersão, precisam primeiro um pre-mix  com um pouco de óleos para desagregar, com o risco de formar pontos e grumos na massa.
Veja mais sobre colorantes para sabão neste post:
http://www.japudo.com.br/2013/01/10/o-que-usar-para-colorir-os-sabonetes-cold-process/

Técnica de swirl – colher

Quem sabe esta técnica seja a mais simples e fácil de fazer um swirl.
Normalmente é usado em swirl de duas cores e os passos são:

1 – prepare o sabão deixando no traço mínimo, adicione as fragâncias e os aditivos, se for o caso,
2 – divida a massa em duas partes propocionais ou não dependendo do efeito desejado.
3 – misture em cada parte o colorante escolhido e misture bem. Se necessário use o mixer, mas com cautela.
4 – use uma colher de sopa pequena para cada cor e vá adicionando alternadamente no molde previamente preparado. Deposite cada colherada de uma cor deixando um espaço, não sobreponha, e deixe rastros entre uma deposição e outra. Siga com outra cor, formando camadas, até completar o molde.
5 – bata o molde para assentar a massa e eliminar vazios e bolhas

Melhor do que ler, é ver. Existem dezenas de vídeos que mostram as técnicas de swirl, é só pesquisar e assistir.

A formulação do sabão é bem básica, somente três óleos que dão as propriedades normais de um sabão balanceado. No caso do sabão amarelo e preto foi usado o óleo de palma bruto (azeite de dendê) no lugar do palma para dar a cor amarela.

 

 

Shampoo em barra cabelo oleoso e corpo

Nesta formulação foram mantidos todos os óleos do shampoo em barra cabelo e corpo, que é mais indicado para cabelos normais e finos. Foi acrescentado 15% de óleo de côco ou babaçú ou palmiste, o que fica bastante adequado para cabelos oleosos devido a ação de limpeza destes óleos. Pela quantidade baixa, a ação de limpeza será bem suave mantendo as propriedades emolientes deste tipo de shampoo.

Para obter a cor rosa claro foi adicionado calamina, um mineral de óxido de zinco com uma pequena quantidade de óxido de ferro, que tem uma cor rosa pália e ação terapeutica  no condicionamento da pele. A cor normalmente se acentua um pouco à medida que o sabão seca.

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Sabão de enxofre – uma experimentação

Por muitos anos o sabonete contendo enxofre é reconhecido como eficaz no tratamento de uma variedade de condições de pele, notadamente na redução de acnes. Aqui no Brasil a marca mais conhecida é a Granado, Confiânça em Portugal e Dr. Kauffman nos USA.

Costuma ser oferecido com duas dosagens de enxofre, normalmente 10% e 4% e também com adição de ácido salicílico. Tem testemunhos de pessoas com pele muito oleosa que costuma tomar o banho diário com o de 10% de enxofre. A recomendação no tratamento de acnes severas é desenvolver a espuma e passar essa espuma na região afetada e deixar agir por alguns minutos.

Resolvi tentar fazer este tipo de produto na saboaria artesanal. Na pesquisa que efetuei nada encontrei em lugar algum que tivesse uma referência de como fazer sabão de enxofre no escopo artesanal. Os produtos comerciais imagino que seja uma massa básica de sabão que é adicionado o enxofre e extrussado normalmente.

Uma ressalva, como o título do post diz, essa é uma experimentação que fiz e portanto muitos pontos ainda estão na esfera de experiência e não estão totalmente esclarecidas. Se você quiser duplicar, fica por sua conta e risco.

Cold Process

Optei por iniciar pelo cold process usando as duas dosagens de enxofre, 4 e 10%.
A primeira dúvida, como adicionar o enxofre. Dois modos, ou misturar nos óleos ou adicionar no trace. O enxofre é absolutamente insolúvel na água e com uma agravante, nem sequer é possível dispersar na água, simplesmente não mistura e nem é molhado pela água, fica sempre sobrenadante. Também não é solúvel em óleos, é mais tolerante quanto à molhabilidade, mas não dispersa bem nos óleos.
Escolhi adicionar no trace porque se já é difícil dispersar nos óleos, imagina misturar na massa engrossando no trace.

Depois de 24 horas, no momento de desmoldar, o sabão com 4 % de enxofre estava completamente mole que não era possível manusear e foi preciso esperar 48 horas, mas mesmo assim o sabão continuava mole e assim ficou até o final de 20 dias. A princípio não consegui entender o que ocorreu neste sabão que ficou muito mole e gorduroso, sinal de que não todo os óleos saponificaram.
O sabão de 10% estava normal, com uma dureza razoável e foi possível cortar em seguida.

Este sabão com 10% de enxofre à medida que secava começou a desenvolver manchas nas superfície do sabão. Essas manchas é do pó de  enxofre que migrou para a superfície do sabão.

Essas manchas podem ser removidas com raspagem e elas não tem tendência a retornar.

Este sabão com 10% de enxofre, feito por cold process tem característica boas, tem dureza, faz uma boa espuma e a sua propriedade de limpeza é extremamente alta, apropriada para uma pele muito oleosa, típica de um sabão de enxofre.

O sabão com 4% de enxofre continua mole depois de 20 dias e o interessante é que formou uma camada externa de cor amarelada e o interior adquiriu uma cor marrom bem escura. Essa camada de cor amarelada  é provavelmente óleos que não saponificaram. Isso pode ser por falta de soda que pode ter sido consumida em alguma interação com o enxofre, por mais estranho que possa parecer. Este sabão não deu certo e será descartado.

Clique aqui para fazer o download da fórmula

Hot Process

Alterei a formulação para economizar os óleos caros e fiz uma fórmula bem simples  retirando o óleo de abacate e a manteiga de karité e aumentando o oliva e o mamona. O processo utilizado foi um hot process convencional com uso da panela de cozimento lento (crock pot). A fase gel translúcido foi obtida com 2 horas de cozimento. Dividi a massa, uma parte em um banho-maria e a outra permaneceu na panela de cozimento lento. Nesta do banho maria foi adicionado 10% de enxofre e na outra os 4%.

Em ambos os casos foi muito difícil incorporar o enxofre na massa do hot process. Forma se grumos de difícil dispersão, mesmo adicionando mais água quente à massa.

Neste de 4% de enxofre que foi adicionado na massa que permaneceu na panela, no fundo da panela, onde a temperatura é maior, o enxofre fundiu e formou grumos de cor castanho escuro, típica do enxofre fundido. O enxofre tem um ponto de fusão ao redor de 112° C e forma um líquido de alta viscosidade e de cor castanho escuro.
Os pontos brancos são da massa de sabão que não foi misturado com o enxofre.

Os dois sabões de enxofre por hot process tem boas propriedades em geral apesar do aspecto não muito uniforme, devido aos pontos brancos da massa não misturada com o enxofre e dos pontos escuros devido à fusão do enxofre.

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Conclusão

Comparando a cor do sabão feitos com os dois métodos é possível inferir que existe uma interação entre a soda e o enxofre no cold process. A cor escura é produto desta interação, o que não acontece no hot process pois a saponificação já ocorreu quando da adição do enxofre e a cor se mantém como a cor natural do sabão, um pouco mais clara devido a própria cor do enxofre. O sabão com 4% por hot process a cor é mais escura comparado com o de 10% pelo mesmo processo porque houve uma pequena fusão de enxofre que tingiu um pouco o sabão.

Essa interação do enxofre com a soda somente é possível se existir um agente redutor que potencializa a reação da soda líquida com o enxofre. Pode ser que haja um redutor na mistura de óleos que possibilita esta reação. É só uma hipótese que carece de uma comprovação

A maior dificuldade está na incorporação do enxofre na massa de sabão de tal modo que fique uma mistura homogênea. Como a solubilidade e a dispersão do enxofre é nula tanto na água como nos óleos e muito dificil obter uma boa mistura. A agravante é que o enxofre tem uma forte tendência a formar grumos de difícil dispersão. Um modo para minimizar é peneirar o enxofre em uma malha fina antes de incorporar e adicionar lentamente, mexendo, se o processo permitir. Outra dificuldade é a fusão do enxofre que gera um líquido viscoso de cor castanho escuro que acaba por contaminar o sabão quando feito por hot process se a temparatura subir demasiadamente.

O sabão com 4% de enxofre por cold process precisa ser repetido para determinar a causa do amolecimento e do excesso de óleos sem saponificar. Posso ter cometido algum erro que me foge à percepção, pois é muito estranho o ocorrido que me fez descartar o sabão.

Fica pendente também a eficácia deste sabão artesanal de enxofre com relação ao tratamento de acnes pois não foi possível até agora fazer os testes.

Shampoo de neem em barras

O óleo de Neem é conhecido por suas propriedades antibactérias e antifungos, mas também tem ação benéficas sobre algumas condições da pele como, acne, caspa, micose, psoríase e eczemas.

Esta é uma fórmula convencional de um shampoo para cabelos e também para o corpo, com predominância de óleo de abacate e oliva, ricos em oleico para um condicionamento suave da pele, palmiste em pequena quantidade para uma média ação de limpeza, palma para a dureza, mamona para a cremosidade e o óleo de neem com ação contra bactérias e fungos.

O óleo de neem tem um odor característico e pungente que foi minimizado com a mistura de óleos essencias de lavandin, litsea cubeba, tea tree, alecrim e limão siciliano. 

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Sabão de Castilla 100% Oliva por cold process – mito ou realidade?

Hoje arrumando as minhas bagunças encontrei uma caixa cheia de sabão, sabões feitos em 2009 e 2010, todos em perfeito estado, embalados em celofane.

Entre os vários sabões lá estava um sabão de Castilla 100% oliva, um puro, sem nada e outro com argila verde, ambos sem cheiro. Foi um grande achado pois é difícil se ter um sabão com tal longevidade!

De imediato lembrei da discussão sobre o sabão 100% azeite que de algum modo tenho me posicionado como um crítico deste tipo de sabão mono-óleo por cold process feito artesanalmente.

Este sabão de Castilla como é chamado, não tem nada do antigo sabão de Castilla levado ao Mediterrâneo, nas terras de Espanha, pelos mouros no século 11, que conheciam as técnicas do sabão de Aleppo.

Na falta do óleo do fruto do louro, fizeram o sabão somente com o oliva em processo a quente em ebulição e com o uso da barrilha como álcali para a saponificação e solução de sal para precipitar o sabão, o que retira a glicerina.

Dois séculos depois esse sabão foi levado à Marselha e iniciou no século 13 a produção do famoso e tradicional sabão de Marselha, que infelizmente as empresa produtoras hoje passam por sérias dificuldades.

Obviamente hoje não temos como testemunhar a performance do sabão de Castilla original mas uma base pode ser o sabão de Marselha que herdou muito do Castilla. Este tipo de sabão tem uma característica peculiar e facilmente notado de fazer pouca espuma e espuma miúda.

O sabão 100% oliva feito artesanalmente por cold process herdou esta característica ou “defeito” do sabão de Marselha e provavelmente do Castilla original. Também com uma agravante, o sabão não tem dureza no uso, sua dissolução é muito grande no contato com a água, fica pegajoso e forma um resíduo de massa dissolvida e espuma na superfície do sabão.

Entretanto herdou a característica fabulosa de condicionamento, proporcionando uma hidratação e emoliência à pele, sem igual.

Como é contato em versos e prosas que o sabão 100% oliva feito por cold process vai ao longo do extenso tempo de secagem, alguns recomendam de 6 a 9 meses, adquirindo melhores propriedades como um todo e eu tinha agora em mãos um sabão de Castilla 100% oliva com 3 anos de idade, só me faltava confirmar tal dito.

As calculadoras on-line permitem ter uma estimativa da performance do sabão nas cinco propriedades, que são: dureza, limpeza, condicionameto, espuma e cremosidade/persistência.

As calculadoras mais usadas são o Soapcalc e o Mendrulandia. O Soapcalc, mais crítico, apontam para o sabão de Castilla as seguintes deficiências:  zero de limpeza, zero para espuma, 17 para dureza e 17 para cremosidade. 

O da Mendrulandia, menos crítico, aponta as deficiências de espuma e persistência no limite inferior e dureza e limpeza a meio caminho do ideal.

Este sabão de 3 anos tem uma boa dureza mas não chega a ser uma dureza tipo pedra, se pressionar com força chega a ceder, não rompe mas cede. A dureza é um pouco inferior à um sabão convencional com oliva, côco e palma com o mesmo tempo de secagem.

A espuma continua sendo de difícil desenvolvimento e pequenas e o sabão dissolve muito fácil ao contato com a água deixando um certo resíduo, uma nata na superfície do sabão.

Comparando com um sabão convencional com oliva, côco e palma nota-se a grande diferênça do tipo de espuma, grande, farta e de fácil desenvolvimento.

Como fica o sabão após o uso.

O que podemos concluir é que, apesar do longo tempo de secagem e estocagem, no sabão de Castilla 100% oliva feito por cold process não há uma melhora nas propriedades deficientes ao longo do tempo.

Apesar destas deficiências do sabão de Castilla 100% Oliva por cold process, este sabão continua imbativel  para pele mais sensíveis e é muito usado para o banho dos bebês e crianças, pelo seu alto poder condicionador.

 

Shampoo em barras cabelos & corpo

Este é um sabão artesanal vegetal e vegan, feito por cold process, um shampoo sólido para cabelos e corpo em forma de barras. Não é comum o uso de um shampoo sólido em forma de barras para o trato dos cabelos.

Na saboaria artesanal quando se faz um shampoo para cabelos, normalmente se faz um sabão líquido pelo método hot process. No sabão líquido sempre existe a necessidade de óleo de côco ou babaçú ou palmiste porque o laureato de potássio é o mais solúvel dos sais de sabão e confere ao sabão líquido a solubilidade necessária e também a transparência.

O óleo de côco por outro lado é conhecido por sua forte ação de limpeza, o que, dependendo da quantidade usada, pode ser até agressivo para a pele e principalmente, para o couro cabeludo, uma área de muita sensibilidade.

Como existe um limite para a quantidade de óleo de côco, não é possível formular um bom shampoo líquido para cabelos sem óleo de côco.

Pensando na possibilidade de fazer um shampoo em barras sem óleo de côco, passei a trabalhar numa formulação adequada para isso.

O objetivo era ter uma shampoo que tivesse o máximo de propriedades condicionadoras e o mínimo de agressividade à pele e couro cabeludo.

Lembrar que propriedade condicionadora significa principalmente emoliência e humectação, emoliência atuando como um lubrificante e humectação aumentando o conteúdo de água na pele.

Selecionei dois óleos com excelentes propriedades condicionadoras, o óleo de oliva e o óleo de abacate. O oliva é sobejamente conhecido por suas ótimas caracteristicas para a pele e o abacate também muito conhecido pelos benefícios aos cabelos, recuperando cabelos ressecados e deixando-os sedosos.

O óleo de palma cuja função principal é dar dureza ao sabão, foi eliminado para potencializar as quantidades do oliva e do abacate, que totalizam 70%.

Os 12% de óleo de mamona é uma quantidade razoável para ter uma boa cremosidade e espuma espessa. A principal função da manteiga de karité nesta formulação é dar um pouco de dureza ao sabão. O óleo de jojoba contribui em muito para o bom trato do couro cabeludo e sua quantidade é mantida baixa para não comprometer a dureza pois seus quse 10% de insaponificáveis derrubam a dureza. O açúcar está para auxiliar a melhorar a formação de espumas.

Esta formulação é bastante diferente, não usual, quebra as regras de uma boa formulação. É semelhante ao sabão 100% oliva onde predomina o oleato de sódio. Se colocar em uma calculadora que fornece as propriedades do sabão, como o Soapcalc, verá que é uma formulação “desbalanceada”, com uma proporção de insaturado/saturado de 80/20. Por exemplo, tem zero de limpeza, isto é claro, porque não tem côco, tem dureza abaixo do limite inferior sem o palma e a espuma no limite inferior pois o açúcar não entra nos cálculos. Em contrapartida tem um condicionamento  muito além do limite superior. Acontece que esta formulação é desbalanceada propositalmente, tudo foi elaborado para que desse um ótimo condicionamento sacrificando outras propriedades, dentro do aceitável.

Com a ausência de óleos saturados este sabão tem um defeito, muito similar ao sabão com 100% óleo de oliva. Quando molhado ele fica pegajoso e tem uma certa tendência a solubilizar mais rápido do que um sabão normal com palma e côco. Nada muito grave que deprecie o sabão, tomando os cuidados devidos para sabões deste tipo não haverá problemas. Este é o preço que se paga para ter o máximo de condicionamento para os cabelos.

clique aqui para baixar a fórmula completa

 Após uma semana de secagem fiz um teste de uso deste shampoo em barras. Todas as propriedades preditas foram alcansadas e em muitas delas superaram as expectativas. O shampoo depois de secar somente por uma semana já tem dureza suficiente para ser manuseado sem problemas. A massa é bem uniforme e sem granulosidade e aspereza (não tem côco). Tem farta espuma com bolhas médias, cremosidade típica do mamona e um razoável grau de limpeza. Deixa os cabelos soltos e sedosos. Cumpre as funções típicas de um bom shampoo e também, o melhor, é muito bom para o corpo. deixa a pele aveludada bem perceptível por um longo tempo após o banho. O shampoo realmente fica pegajoso após o uso mas seca bem e fica bom para o próximo uso

 

 

 

Análise de fórmulas de sabão livres de palma

Tem sido comentado no grupo Saboaria, de Portugal, as questões relevantes dos impactos negativos do cultivo e extração do óleo de palma, feitos de modo não sustentável, socialmente incorretos,  pelos maiores produtores mundiais, a Indonésia e a Malásia.
Já tinha comentado esta questão no post – “O óleo de palma pode ser sustentável?”: http://www.japudo.com.br/2013/01/01/o-oleo-de-palma-pode-ser-sustentavel/.

As pessoas mais enganjadas querem banir o uso do óleo de palma no sabão artesanal e para tanto, buscam formulações alternativas que não contenham o palma. É perfeitamente possível fazer uma formulação sem palma, lembrando que o palma é rico em ácido palmítico e um pouco de ácido esteárico que são os ácidos saturados que conferem ao sabão a dureza necessária. A regra então, é buscar óleos e manteigas que são ricos em palmítico e esteáricos. Não existe muita opções e normalmente são caros comparados ao palma. São eles, a manteiga de cacau, a manteiga de karité e o óleo de arroz.

A Ana Caseiro Duarte Costa do grupo Saboaria postou um link do site da saboeira Amanda Griffin, onde ela explica muito bem a questão do palma e também apresenta cinco alternativas de formulação livre de palma.

Fiquei curioso de saber qual seria o impacto nos custos da substituição do palma por essas matéria primas mais caras.

Entrei em contato com a Amanda Griffin e ela, gentilmente, me deu a permissão de publicar estas fórmulas aqui no site.

O site da Amanda é:

http://www.lovinsoap.com/2012/06/palm-free-recipes-day-1/#comment-3816

Fiz a análise e o resultado mostra um grande impacto nos custos. Chega a quase dobrar os custo e na melhor das alternativas, o aumento no custo é de 57%.

Este mesma análise fiz para as condições de Portugal e também há um impacto forte de modo geral.

A nossa sorte é que, o Brasil é o 7º produtor de óleo de palma e diferente dos gigantes da Ásia, nossa produção é feita de modo sustentável e responsável, graças a um trabalho sério feito pela maior empresa sediada no estado do Pará.

Se alguém quiser o trabalho completo que está numa planilha, por favor, entre em contato.

Molde simples

Muitos já tem o seu molde que usam e estão satisfeitas com ele.
Entretanto as pessoas que estão começando tem certa dificuldade em obter ou faze-los.
Desenhei este molde simples cujas dimensões são de 300 x 90 x 100 mm que permite fazer 12 barras de sabão de 130g no tamanho padrão de 90 x 60 x 25 mm. Para esta 12 barras de tamanho padrão, a quantidade de massa de sabão necessária é de 1560g. Como tem uma altura de 100mm, permite fazer barras com maior altura, limitada à 85 mm.

Caso queiram fazer um guia de corte para cortar o sabão com uma faca, lâmina ou um fio de aço inox esticado, tem um desenho de como fazer as ranhuras no molde.
Se quiserem um molde menor, é só redimensionar as peças horizontais, por exemplo, para 6 barras as medidas serão pela metade.

A foto acima é de um modêlo anterior, tem só uma diferênça na peça lateral.

 

O arquivo em pdf pode ser baixado na página de dowloads – clique aqui

 

Revestimento para molde

Este revestimento reutilizável para molde usei por um longo tempo, é feita de folhas de plásticos em tamanho A4 que se usam para encapar trabalhos. Podem ser usados as de acetato ou de polipropileno, sendo estas, mais resistentes. Podem ser encontradas em papelarias ou lojas que fazem fotocópias e encadernação.

Tem um pequeno problema da massa as vezes grudar um pouco no revestimento, mas nada que comprometa o acabamento da barra de sabão. Para reutilizar basta lavar e secar.

O arquivo em pdf pode ser baixado na página de dowloads – clique aqui

 

UE estabeleceu a proibição para sempre de testes de cosméticos em animais

Traduzi esta matéria que foi publicada em 31/01/13 no site da Cruelty-Free International:
http://www.crueltyfreeinternational.org/en/a/EU-set-to-ban-animal-testing-for-cosmetics-forever-news.

The Body Shop e Cruelty Free International pioneiros da campanha, comemoram após 20 anos de militância.

Depois de mais de 20 anos de campanha, a empresa de produtos éticos de beleza, The Body Shop e a organização  sem fins lucrativos, Cruelty Free International estão finalmente comemorarando o fim de testes de cosméticos em animais na Europa, com o anúncio antecipado de que a importação e venda de produtos cosméticos testados em animais e ingredientes será proibida na UE em 11 de março de 2013.

Esta vitória inovadora significa que, a partir 11 de marco, qualquer pessoa que pretenda vender novos produtos e ingredientes cosméticos na UE não deve testá-los em animais em qualquer lugar do mundo. A proibição afeta todos os cosméticos, incluindo produtos de higiene pessoal e produtos de beleza, do sabão à pasta de dentes. A The Body Shop é uma das poucas marcas de beleza que não serão afetados pela proibição, depois de ter sido sempre contra os testes em animais.

The Body Shop e a Cruelty Free International está lançando uma série de atividades comemorativas especiais na contagem regressiva para março 11, motivados pela confirmação pessoal do Comissário Tonio Borg que a proibição deverá ir em frente, como proposto. Borg escreveu em uma carta recente aos ativistas da campanha, “eu acredito que a proibição deve entrar em vigor em Março de 2013, como o Parlamento e o Conselho já decidiram. Estou, portanto, não pretendendo propor um adiamento ou derrogação à proibição.”

A proposta de proibição envia uma mensagem forte a todo o mundo em apoio a beleza sem crueldade e em particular para países como a China, que ainda exigem testes de cosméticos em animais, para também enganjar e proibir testes em animais.

O Executivo Chefe da Cruelty Free International, Michelle Thew disse: “Este é realmente um evento histórico e culmina com mais de 20 anos de campanha. Agora vamos aplicar a nossa determinação e visão em um palco global para assegurar que o resto do mundo siga esta orientação.”

Paul McGreevy, Diretor Internacional de Valores da The Body Shop prestou homenagem aos clientes que têm apoiado a campanha da empresa contra a experimentação animal em cosméticos por muitos anos e disse: “Esta grande conquista na Europa é apenas o encerramento de um capítulo. O futuro da beleza deve estar livre de crueldade “.

Em 1991, a BUAV (fundador da Cruelty Free International) estabeleceu uma coalizão da liderânça europeia de organizações de proteção aos animal em toda a Europa (ECEAE) com o objetivo de acabar com o uso de testes de cosméticos em animais. Isto desencadeou uma campanha de alta exposição pública e política em toda a Europa ao longo de mais de 20 anos. Em 1993, a The Body Shop, a primeira empresa de beleza a tomar medidas em testes de cosméticos em animais, apoiou a campanha por conseguir o apoio de seus consumidores em toda a Europa. Três anos mais tarde, em 1996, Anita Roddick, fundadora da The Body Shop, juntou-se a membros da ECEAE e deputados na apresentação de uma petição contendo 4 milhões de assinaturas para a Comissão Europeia.

Em 2012, a BUAV estabeleceu a Cruelty Free International, a primeira organização mundial dedicada a acabar com cosméticos testados em animais em todo o mundo. A The Body Shop, juntamente com  a Cruelty Free International lançou uma nova campanha internacional, que até agora resultou em clientes de 55 países que assinaram um compromisso global de apoiar o fim dos testes de cosméticos em animais para sempre.

Cruelty Free International Chief Executive Michelle Thew estará se reunindo com o Comissário Tonio Borg na quarta-feira 30 de janeiro, em nome da Coligação Europeia para Acabar com a Experimentação Animal (ECEAE) para discutir a implementação da proibição.

 

Sabão em pó caseiro

Grupo discussão Saboaria – Portugal 

Fiz esta fórmula de sabão em pó caseiro para postar num grupo do Facebook que discuti a saboaria artesanal em Portugal.
Este grupo é fabuloso no seu espírito de partilhar conhecimentos de modo transparente e despreendido, todos aprendem e trocam os conhecimentos.
Quem tiver interesse de acessar, o grupo é fechado e precisa solicitar adesão, o endereço é: http://www.facebook.com/groups/saboaria/

Em Portugal a consciência ecológica e de sustentabilidade está em franco desenvolvimento. As pessoas se preocupam com a economia e preservação dos recursos naturais, a reciclagem e com o uso de produtos ecologicamente corretos. Estão sempre procurando produtos que possam substituir os produtos industrializados e derivados dos petroquímicos.

No grupo Saboaria alguém solicitou uma receita de sabão para lavagem de roupas. Sugeri um sabão vegetal de côco que costumo fazer: côco/palma – 75/25, mas como o óleo de côco é caro em Portugal, fiz uma modificação para compatibilizar custos e disponibilidade, sem sacrificar em demasia a performace do sabão. O óleo de oliva extra virgem comum é barato em Portugal, em torno de R$ 8 o litro. A fórmula do sabão de côco original e a modificação estão na página de download.
Deste sabão em barra foi derivado o sabão em pó pois muitos tem o costume de ralar o sabão, dissolver em água e usar na lavadora. O sabão líquido assim preparado fica muito ralo e precisa ser agitado antes de usar.

Por não ter o sabão de côco em barras, fiz o teste, com sucesso, do processo usando um sabonete de lavanda cuja composição é a que mais se aproxima da fórmula do sabão de côco em barras. Essa composição é básica dos meus sabonetes: oliva/côco/palma/rícino: 30/30/35/5. Se deu tudo certo com esta fórmula, com certeza ficará melhor com a fórmula do sabão de côco em barras original ou a modificada.

Fórmula

formula sabao po br 520px

O sabão de côco em barras, como disse acima, pode ser o original cuja composição é: óleo de côco/óleo de palma – 75/25 ou a versão portuguesa cuja composição é: óleo de côco/óleo de palma/óleo de oliva – 60/10/30. Lembrar que a dinâmica de limpeza está na solubilidade do sabão e no poder de fazer espumas. Assim sendo, quanto maior a quantidade de palmitato de sódio, um dos mais solúveis sais de sabão e também dos que mais faz espuma, maior é o poder de limpeza.
O carbonato de sódio amolece a água e remove sujeiras e o bórax é um branqueador e tira odores.

Como fazer

É preciso um ralador de cozinha, para ralar a barra de sabão, balança, e um processador de alimentos.

Aqui o sabão ralado no ralador de cozinha. Ralar previamente facilita a moagem no processador de alimentos.

Carbonato de sódio e bórax pesados na balança de cozinha.

No processador de alimentos, aos poucos vai se adicionando o sabão ralado junto com pequenas quantidades de carbonato de sódio e bórax e acionando o processador até obter uma moagem fina. Como é uma mistura de sólido faça aos poucos para preservar o procesador de sobre-aquecimento.

O sabão colorido facilitar observar a homogenidade da mistura.
Quando a mistura estiver bem fina e  bem homogênea o sabão em pó está pronto.

O sabão em pó e a dissolução em água. Obviamente a dissolução deste sabão não pode ser comparado com o sabão em pó sintético, industrializado e com derivados petroquímicos. Este sabão caseiro demora mais para dissolver mas o trabalho mecânico de agitação na lavadora é suficiente para uma boa solubilização e lavagem.

Medida do pH do sabão em pó caseiro. O bórax atua tamponando a solução e mantendo o pH abaixo de 10.

 clique aqui para o download da fórmula sabão em pó

 

 

Entendendo o traço

O que é o traço?

Muita gente tem dúvidas o que é o traço – trace em inglês, aquele momento em que ao misturar a solução de soda aos óleos com agitação, a mistura começa a adquirir uma consistência devido ao aumento da viscosidade e chega a um ponto ideal em que é preciso parar a agitação e verter para os moldes.
O nome traço vem da observação em que a viscosidade é tal que ao colocar e retirar uma espátula na massa, o escorrido deixa um “traço”, uma marca visível na superfície da massa de sabão.

O traço pode ser leve, médio e pesado e a escolha depende da formulação e o que se deseja trabalhar com o sabão. Por exemplo, se for fazer o swirl – técnica de misturar cores formando padrões no sabão, o traço tem que ser leve para possibilitar tempo para fazer o swirl. No caso de fazer sabão em camadas, quer seja de cores diferentes ou mesmo composições diferentes, é melhor trabalhar com traço de médio a pesado. Se a formulação tiver componentes que aceleram o traço, como a manteiga de karité (alto conteúdo de acido esteárico) ou alguns óleos essenciais, é preferivel parar a agitação no traço leve

O tempo necessário para se obter o traço é função dos componentes da formulação, da temperatura do processo, da concentração da soda e do trabalho mecânico aplicado na agitação – com um mixer de cozinha é questão de poucos minutos, se for manual, com um batedor aramado, um pouco mais demorado.

Se a formulação contiver óleos com ácidos graxos saturados, como a manteiga de karité e a manteiga de cacau, o trace é mais rápido. Os que tiverem monoinsaturados ou poliinsaturados, como o óleo de oliva e o de girassol, o tempo é maior. Temperatura maior, reação mais rápida e traço mais rápido e igualmente para a concentração da soda.

Qual é o fenômeno físico-químico que acontece no traço?

Todos já devem ter observado que ao misturar óleo com a água ou vice-versa, no repouso a água e o óleo se separam, formando camadas distintas, o óleo por cima (menor peso específico) e  água por baixo.

O que é preciso para que o óleo e a água se misturem estávelmente?

O modo mais simples é usar produtos chamados surfactantes, tensoativos ou mesmo emulsificantes. São moléculas que possuem um caracter anfifílico, isto é, uma estrutura parte polar e hidrofílica e outra apolar e hidrofóbica.
O sabão é uma surfactante do tipo aniônico, ioniza-se em solução aquosa liberando ânions.

 

Acima uma representação esteroquímica de uma molécula de sabão, com a cabeça hidrofílica do sal de sódio ou potássio e uma cauda hidrofóbica ou lipofílica do ácido graxo do óleo. A cabeça hidrofóbica se liga à água e a cauda à parte do hidrocarboneto do ácido graxo do óleo. Essa afinidade cria a emulsão compatibilizando numa estrutura estável o óleo e a água.

 Então quando se mistura a solução de soda ao óleo, numa situação inicial hipotética para explicar melhor o fenômeno físico-químico onde se supõe que se forme uma interface água-óleo, nesta interface haverá o início da formação de sabão pela reação de saponificação. Se mantida esta situação de repouso, a reação será interrompida pela barreira física e falta de contato entre a solução de soda e o óleo.

Se aplicarmos uma agitação mecânica a este início de saponificação, haverá uma quebra na barreira física e e o contato entre a solução de soda e o óleo será intensificado pelo aumento da área superficial de contato – quebra em micro-partículas. Terá inicio a emulsão e então o nosso conhecido fenômeno do traço

 

Essa seria a representação da emulsão formada entre a água e o óleo por meio da ação surfactante do sabão que começa a se formar.

A emulsão formada pelo surfactante inicial, o sabão e pela ajuda da ação mecânica do mexedor, expõe o contato íntimo da soda com o óleo que é refletida no aumento da viscosidade, da consistência da massa, pela reação de saponificação. Ao contrário do que muito se lê, a saponificação no traço não passa de 10%, isto é, no traço ainda a reação de saponificação é bem inicial, tem muita soda livre, que vai ser processada no molde e nos proximos três ou pouco mais dias do início da secagem.