Óleos vegetais para sabão – refinados ou não refinados … mito!

Os óleos vegetais mais comuns que são usados para fazer sabão e sabonetes artesanais são os mesmos que são usados na sua cozinha ou nas cozinhas das industrias de alimentos. São usados no preparo dos alimentos e na fritura.
O soja, canola, girassol e oliva são os mais usados nos lares, o côco na cozinha regional e o palma e palmiste na confeitaria, em doces e na fritura industrial.

Todos esses óleos são comestíveis e de alto consumo, os usados na cozinha doméstica, são encontrados nos supermercados e mercadinhos. Por razões mercadológicas devem obedecer rígidos padrões de apresentação do produto. São padronizados para serem comestíveis e completamente atóxicos e apresentados como líquidos claros e transparentes, isento de particulados, sem odor e com elevado prazo de validade.

Para se atingir essa padronização, os óleos e gorduras de origem vegetal necessitam de um processamento específico. A esse processamento dá se o nome genérico de refino.

Os óleos vegetais são extraidos de uma variedade de sementes, frutos e nozes. A preparação da matéria prima se inicia com a lavagem e limpeza, seguido pelo descasque, trituração e condicionamento.
A extração geralmente é feita por meio mecânico, sendo para frutos a destilação e para sementes e nozes, a presagem com prensa mecânica. ou pelo uso de solventes como o hexano que depois é destilado para separar do óleo e é reaproveitado.

Após a extração, para eliminar os ácidos graxos livres (FFA) que são responsáveis pela rápida deteriorização do óleo e os fosfolipídeos (goma) que deixa o óleo pegajoso, é necessário o processo propriamente dito de refino. Existem dois tipos de refino, o refino físico onde se usa a destilação (p ex. óleo de palma) e o refino químico (maioria dos óleos) onde é usado um álcali, normalmente hidróxido de sódio, para neutralizar o ácido graxo livre.

O método tradicional de refino é o químico onde o álcali diluido saponifica os ácidos graxos livres e é eliminado como sabão, na água. Além do FFA também é eliminado os fosfolipídeos, metais, produtos oxidados, etc.

No método físico é necessário uma etapa de degomagem com ácidos, fosfórico ou cítrico (p ex. palma) para eliminar os fosfolipídeos. Abaixo está um esquema bem simplificado do processo de extração com solvente e refino químico.

O óleo refinado, quando aplicável, passa por um processo de branqueamento com material de absorção (argila ou carvão ativo) e pelo processo de desodorização com fluxo de vapor. No processo final tem se o chamado óleo RDB (refinado, branqueado e desodorizado).

Todo o processo de refino dos óleos não altera a sua composição de triglicerídeos, isto é, a composição dos ácidos graxos. Deste modo as propriedades dos óleos continua a mesma e o sabão feito do óleo refinado é o mesmo, quando aplicável, p ex. oliva, ao óleo não refinado. O refino retira as impuresas contaminantes dos óleos como os FFA e os fosfolipídeos e com alguns óleos vegetais não refinados sequer é possível fazer um sabão, caso do canola e do soja e do palma.

É um dos mitos da saboaria artesanal, isso de ter problemas com o sabão feito de óleo refinado, não existe nenhuma restrição de quantidade e tipo, que afetam as propriedades do sabão. Outra lenda urbana é, no óleo cuja extração foi empregado solvente, este solvente estará presente no sabão! Outra, no refino químico se usa produtos químicos (NaOH) e essa soda estará no óleo e daí vai estragar o sabão! O absurdo é que depois é usado a soda para fazer o sabão!

Abaixo uma relação com os principais óleos e manteigas utilizados na saboaria artesanal e o tipo de processamento para a sua purificação. A numeração do processo se refere ao diagrama anterior.

Como se pode ver, em alguns óleos existe a opção do virgem e extra virgem que significa que o óleo são sofre nenhum refino, notadamente é o oliva,  e outra opção são os orgânicos, que significa que no refino não é usado produtos químicos, caso do palma orgânico. Obviamente estes tipos especiais são bem mais caros e de difícil disponibilidade.
Enfatizo novamente, não existe razão para escolher óleos virgem, extra virgem e orgânicos para fazer o sabão. Não existe diferênças entre sabão feitos com estes tipos de óleos e os comuns, refinados.

 

 

44 ideias sobre “Óleos vegetais para sabão – refinados ou não refinados … mito!

  1. Akira,
    Do ponto de vista da saponificação realmente não há diferença, mas do ponto de vista da geração de resíduo químico, há diferença sim. É uma pena que no Brasil óleos nos quais não se usa resíduos químicos na produção são muito caros. Outro ponto: os insaponificáveis, retirados no processo de refino não seria benéfico ao resultado final do sabão? Obrigada pelo post. Esclareceu muitas dúvidas, mas criou outras.
    Abraço

    • Monaliza,
      O refino é realizado para deixar o produto mais cormecializável. Vc compraria um óleo qualquer para uso culinário/alimentação que tivesse um aspexto turvo, com particulado em suspensão, uma goma que poderia separar na superfície, restos de insetos, um odor forte, mesmo que característico, uma cor não unifrome de loet para lote, etc. Eu acho que ninguém compraria um óleo assim. Pois é por isso que a industria refina os óleos, deixa-os uniforme, seguindo um padrão. Lembra também que os óleos, todos eles, estão no mercado para atender um perfil de consumidor, o uso em saboaria é pífio, ninguém faz óleos visando o seu uso em saboaria.

      • Eu compraria! Aliás aqui na Bahia o azeite de dendê geralmente é assim e todo mundo usa…
        Eu geralmente uso óleos virgens nos meus sabões, eles realmente têm cheiro forte, aspecto não uniforme, e nunca tive problemas. O cheiro não fica no final. Quanto a resíduos (cascas, insetos) no óleo eu nunca vi. Acho que isso tem a ver com falhas na filtração. O fato de usar um óleo padronizado e sem odor (o que retira também algumas propriedades e é verdade que diminui o ‘shelf life’) também é meio cultural, estamos acostumados. Prefiro um óleo assim doque com traços de solventes (que a meu ver permanecem no sabão)…Tenho mudado os óleos da minha alimentação inclusive para óleos virgens também. Mas sei que é ponto de vista.
        Abraço Akira

        • O azeite de dendê pode ser usado? O meu não endureceu, pensei que pudesse ser por causa do a eite ao lugar do oleo refinado

          • Mathias,
            O azeite de dendê pode ser usado no lugar do palma refinado, pois o dende é o palma bruto.
            A cor pode desaparecer com o tempo

  2. “Todo o processo de refino dos óleos não altera a sua composição de triglicerídeos, isto é, a composição dos ácidos graxos.”
    E os demais nutrientes como vitaminas?

  3. Olá,
    Gostaria de saber se daria certo fazer sabonete, usando apenas óleo de girassol, ou canola + óleo de coco + soda + água.
    é possível? geraria um bom sabonete? ou deve ser só o de oliva mesmo?

    • Pode ser usado o canola, o mais similar ao oliva. O girassol é mais frágil a oxidação, mas pode ser usado.
      O sabão para estar equilibrado precisa de um óleo de palma ou sebo para dar dureza e durabilidade.

      • Ok! Muito obrigada. Vou baixar a calculadora, para ir estudando como vou fazer.
        Decidido então os óleos que eu vou usar
        óleo de canola
        óleo de palma (azeite de dendê é a mesma coisa?)
        óleo de coco
        soda
        água

        Com a sua experiência, poderia me adiantar, (até depois pra mim poder conferir com a calculadora, pra saber se estou usando certo). Se eu usar dois litros de óleo de canola, quais as quantidades dos outros ingredientes?

        Dúvida: Quando fui comprar o óleo de coco, tinha o extra virgem, em forma líquida, e a gordura de coco em forma sólida. Comprei a gordura. Pois em todas as receitas fala “óleo de coco” mas usa uma pasta branca! Só que essa gordura, na verdade é gordura de cocos, pois tem de palmise e babaçu misturado. Minha dúvida é, para usar na calculadora, devo desconsiderar que minha gordura tem mistura, e considerar óleo de coco? Isso pode implicar negativamente na receita? Ainda mais se eu adicionar o azeite de dendê.

        Obrigada pelo retorno, me ajudou muito.

  4. Seu Akira, boa tarde,
    o senhor já comprou ou conhece as empresas abaixo:
    engetec – engenharia das essências
    aroma chik – amauri sabonetes orgânicos

    encontrei alguns óleos que me interessam e gostaria de saber se possuem boa reputação.
    obrigado pela atenção,

  5. Boa, tarde
    Procuro fornecedores de oleo vegetal usado e oleo de milho para exportação.

    Os fornecedores precisam ter a certificação ISCC.

    Ficarei muito grata se souber me indicar.

    Obrigada.

  6. como usa o oleo de coco para diabeticos? Sei que deveria perguntar isso para um medico, mas e que ja perguntei para o meu medico e ele disse que nao e recomendado o usopara quem tem diabete, entao resolvi te perguntar. Se puder me ajudar fico muito grata.

  7. Olá, sr Roberto.

    Sobre o uso de óleo de girassol, existe diferença de IS entre o óleo de girassol “de cozinha”, vendido nos supermercados para aqueles vendidos em sites especializados de saboaria? A diferença de preço é bastante considerável, apesar de ambos serem classificados como óleos refinados de girassol. Posso utilizar qualquer um dos dois na formulação?

    • Rafael,
      Não existe diferenças no IS entre o óleo de girassol de supermercado e outro qualquer.
      Para fazer sabão pode usar indistintamente, mas lembre-se que o de supermercado pode as vezes conter antioxidante petroquímico, BHT ou outros.

  8. Olá sr. Akira, achei muito interessante esta publicaçao, q só hj pesquisando encontrei, mas confesso q ao ler as respostas sobre os outros comentarios me confundi. Ou seja, no post o sr. Fala q nao ha diferença entre o sabao feito com oleos puros e oleo refinado, mas nas respostas afirma q o oleo refinado pode perder alguns ativos q sao degradados e q tb podem conter alguns solventes petroquimicos. E ainda assim o sabao obtido com tais oleos é o mesmo?

    • Não existe diferenças entre o sabão feito com óleo não refinado e o óleo refinado.
      Os óleos não refinados podem ter alguns ativos que na saponificação se perdem devido à alcalinidade da soda. Estes ativos também se perdem no refino do óleo. Solventes são utilizados no refino que depois são retirados com a destilação. Todos os óleos de cozinha, de supermercado, são óleos refinados onde foi usado um solvente para melhor rendimento da extração. Excessão é o óleo extra virgem e virgem de oliva.

  9. Boa Tarde!

    Sendo assim posso comprar o azeite de oliva de supermercado para a produção de sabonetes?

    A diferença de valor é muito grande! Por exemplo: 01 litro de oliva extra virgem em sites de produtos para saboaria a R$ 52,00 e, em uma promoção no supermercado da minha cidade 01 litro de oliva (andorinha) a R$16,00…

    Obrigada!

  10. Olá Akira,

    Muito obrigado pelas dicas.

    Tenho uma dúvida: fiz um lote de sabonetes com óleo de castanha do Pará como uma das bases, mas fiquei preocupado, pois ainda não vi nenhuma receita usando esse óleo como base, mas sim como sobregordura. Existem óleos que não são indicados para serem colocados em grandes quantidades na massa?

    Obrigado e sucesso!

    • Guilherme,
      Os óleos poliinsaturados tem tendência muito grande de oxidar, evite-os
      Sobregordura como vc falou, é um dos mitos da saboaria artesanal

  11. Boa noite, Sr. Akira! Este site é uma verdadeira enciclopédia, obrigada por compartilhar todo esse conhecimento. Vi que o Sr.comentou acima sobre os cuidados com a adulteração do azeite . O sr. poderia explicar riscos do uso de azeite adulterado para a fabricação de sabonetes ? Obrigada

    • Paula,
      O problema é que a adulteração é feita com óleos poli-insaturados que oxidam facilmente, além do fato de estar comprando um óleo que não é o azeite 100% e pagando com se fosse!

  12. Sr. Akira, porque você diz que a sobre gordura é um mito da saboaria artesanal? Isso também é válido para os sabões feitos por hot process?

    • Rafael,
      Sobregordura não é um mito em si. Mito é considerar que o óleo adicionado por último, no traço (cold process), é o óleo que não saponificará e será a sobregordura.
      O superfatting – sobregordura é um excesso de óleo ou falta de álcali, que fará com que haja uma quantidade da mistura de óleos que não vão saponificar.

      • Eu tenho muitas dúvidas em relação a isso confesso que nunca entendi direito, pois uns coloca sobregordura e outros não

        • Consolação,
          Sobregordura de pensar que colocar o óleo depois do traço vai ser esse óleo o óleo que vai ficar sem saponificar no Cold, é um mito

  13. Olá, o que são óleos modificadores? Pesquisei no google mas não encontrei nada a respeito.

    Obrigado

  14. Boa tarde! Aqui em minha cidade tem uma empresa que vende óleo de coco, e falando com o vendedor ,me respondeu que seria o tipo cocos nucifera ou coco Bahia, mas como vejo em suas receitas ,só usa o babaçu e vendo o índice de saponificação deles,são quase iguais,não teria problema em substituir,que fica mais em conta para mim.

  15. Obrigado pela gentileza de esclarecer,o Senhor é uma pessoa rara nos dias de hoje.

  16. Olá professor! Tudo bem? Vou te perguntar umas coisinhas rsrs…
    1- Ao procurar óleo de mamona pra produzir sabão me deparei com dois tipos na destilaria Bauru, um refinado clarificado que eles citam como extra pale, de “qualidade superior” (porém os % de ácido graxo não se alteram qdo comparado ao outro) e sem odor, e outro que eles dizem ser prensado a frio, extra virgem, mesmas características químicas porém com odor. Existe alguma diferença a nível da saboaria natural entre os dois? No caso o refinado está mais caro que o extra virgem (geralmente vemos o inverso né?).
    2 – O senhor considera o óleo de algodão um bom óleo pra ser usado na saponificação? (usando ele aprox 25 a 30% juntamente com oliva e mamona somando 50% de óleos moles e os outros 50 palma coco e palmiste)
    3- Qual (quais) dos critérios o senhor considera mais importantes na soapcalc na hora de calcular sua fórmula?? Existe algum valor que o senhor não abra mão de estar em algum valor específico por questões de qualidade? Ou estando todos os parâmetros dentro do indicado o sabão já será de boa qualidade?
    Gratidão
    Thais

    • Thais,
      Para a saboaria, tanto faz o refinado ou o bruto, estranho o refinado ser mais caro do que o não refinado
      Dos óleo poliinsaturados o melhor é o de milho
      O melhor é ter um sabão balanceado, com todas as propriedades dentro da régua do soapcalc

  17. Olá Professor Roberto.
    Boa tarde Mestre!
    Primeiramente, parabéns pelo seu trabalho. É um privilégio para todos e a mim sem dúvida aprender com o Senhor, e com sua humildade, gentileza, nos ensinar.
    Hoje tenho uma duvida cruel e somente procurando o Senhor, acredito que poderei compreender.

    Roberto Akira, me ajude!
    Eu pretendo fazer um lote com uns 10 sabonetes glicerinado, para uso próprio e resolvi usar óleo de palma. O meu acabou mas eu tenho o azeite de dendê oleico que vende nos mercados de cor avermelhada. Procurei na internet e existe sabonete glicerinado de dendê (cor vermelha para vender) então acho que seja possivel faze-lo com a minha formulinha abaixo.
    Resolvi então fazer a seguinte formula usando a calculadora mendrulandia como referencia.
    350g de óleo azeite de dendê (supermercado)
    300g de coco babaçu refinado
    100g de azeite oliva extra virgem portugal
    100g oleo de soja refinado
    100g oleo de ricino (mamona).
    50g de oleo semente de uva bruto.
    superfet 6%
    Acredito que o óleo de dender vai dar a cor natural.
    obs: o açucar, alcool de cereais e a glicerina, ainda terei que calcular, mas a minha duvida mesmo segue logo abaixo:

    1 – o azeite de dendê semi-solido de cor vermelha poderá manchar a pele após usar o sabonete?
    2 – o mesmo azeite vermelho de dendê semi-solido, poderá substituir a gordura de palma (refinado branco e saturado)?
    3 – A minha formula de sabão está adequada para obter um sabão glicerinado espumoso e bom condicionamento, terei que usar o lauril?
    4 – se caso o azeite de dendê não for possível usar nessa formula de sabão glicerinado, e se eu não tiver o palma refinado (gordura), eu posso substituir na calculadora pela banha vegetal hidrogenada junto aos outros óleos? No lugar do óleo de palma ele vai dar dureza no sabão?
    Mestre Roberto Akira, perdoa-me tantas perguntas, mas essas são as duvidas, e por isso não fiz meu sabão ainda. Estou com todos os ingredientes guardados até que eu possa compreender melhor o uso do dendê.
    E fico muito grato pela sua atenção e ajuda!

    • Marcos,
      Pode usar perfeitamente o azeite de dendê que é o óleo de palma bruto.
      Tem o mesmo índice de saponificação só que a cor alaranjada não tem resistência à luz e vai desbotar com o tempo.
      Essa cor não mancha e como sua fórmula tem óleo laurico – babaçu, vai dar espuma sem necessidade de agente espumante.